17 de novembro de 2016

DESBRAVANDO LUGARES ESCUROS COM GILLIAN FLYNN

Minha relação com Gillian Flynn é, definitivamente, conflituosa. Nos amamos com seu conto publicado na antologia de Contos Fantásticos (Arqueiro, 2015 - clique aqui para ler sobre) e brigamos em Garota Exemplar (Intrínseca). Mas, o tom obscuro das histórias de Gillian sempre me despertava o interesse, apesar das raivas. Lugares Escuros (Intrínseca, 2015) me transportou para um enredo que brincava com a mente a cada página.


Libby Day é uma sobrevivente aclamada pelos moradores de Kinnakee. Após presenciar a morte de sua mãe e de suas irmãs, a garotinha virou um ícone de superação para a pequena cidade que morava. Além disso, fez uma declaração que mudou drasticamente a sua vida: seu depoimento relatou que seu irmão de 15 anos seria o assassino. 

24 anos se passaram. Ben, seu irmão, está na cadeia e ela aprendeu a se virar sozinha. Depois de um crescimento como uma criança idolatrada pelo trágico acontecimento, o dinheiro e doações foram se acabando e Libby se encontra num estado crítico. Contatada pelo Kill Club, pessoas fascinadas por verídicos e trágicos casos policiais e seus mistérios que se reúnem para discussões, para relatar com detalhes as lembranças daquele dia, a personagem vê essa oportunidade como uma forma de ganhar dinheiro e se manter nesse momento.

"Seu irmão fazer isso é que não faz sentido. É um crime insano, grande parte dele não vai fazer sentido. Por isso as pessoas são tão obcecadas com esses assassinatos. Se fizessem algum sentido, não seriam realmente mistérios, certo?" (página 123).

Entretanto, ela não esperava que mentes soubessem tantas informações sobre sua vida. Detalhes, jornais antigos, comentários, entrevistas: sua vida documentada por pessoas sedentas em saber o que realmente aconteceu naquela noite. A partir disso, muitas coisas acontecem e nossa personagem vê o passado retomar diante dos seus olhos, assim como a verdade.


Com flashs do passado e do presente intercalados na narrativa (e na visão de diversos personagens) somos levados a acompanhar toda a situação e o que motivou essa chacina. Diversas vezes, desconstruímos tudo que pensamos sobre Libby e a família - e dessa forma, Flynn descreve sua maestria: nos surpreender com as revelações do enredo.

A escrita é fantástica. A forma como ela descreve, como retoma um fato e relaciona ao presente é um fato que engradece suas narrativas. Entretanto, os personagens conflituosos, desde Garota Exemplar, nunca me conquistaram. Em Lugares Escuros, a protagonista não conseguia me trazer para história por completo - pelos atos, pensamentos e atitudes.


Por isso, acabou tornando a minha leitura maçante. Empaquei MUITO nos primeiros capítulos e levei um bom tempo para encerrar o livro. Ainda sim, vale-se ressalvar um fato muito próprio da autora: a forma como ela traz o mundo real, com defeitos e qualidades, para suas narrativas. Admiro muito a capacidade de enquadrar tudo na escrita de uma forma tão singela. Os personagens tem hábitos narrados que se assemelham ao que fazemos diariamente - tornando a história mais "conectada" ao leitor. 

Apesar das ressalvas e de uma finalização surpreendente, além de estranha, Lugares Estranhos é um livro bom. Te fará repensar a adolescência, a sanidade e embarcar numa narrativa sombria, sangrenta, e psicodélica. Noites em claro serão perturbadas pela história de Libby Day, acredite. 

Título: Lugares Escuros.
Título Original: Dark Places.
Autora: Gillian Flynn.
Editora: Intrínseca (2015).
Páginas: 352.



Um comentário:

  1. Oi, Italo!
    Eu também não simpatizei muito com a Libby. Preferi mil vezes os capítulos que retratavam o passado, mas reconheço que misturando passado/presente o clima de suspense foi maior. Eu devorei o livro para saber afinal o que houve naquele dia! A cada capítulo/hora que passava, mas curiosa eu ficava!

    Também curti bastante O Adulto, eu tenho o livro do conto, não O Principe de Westeros.

    Beijos,
    Giulia | www.1livro1filme.com.br

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