A contracapa de "Quem era ela" (intrínseca, 2017) é suficiente para deixar qualquer leitor louco e fascinado pela história. Aliás, não é todo dia que encontramos um livro onde o presente e o futuro são temidos pelos personagens.
Para morar no Folgate Street Nº 1 é preciso preencher muitos requisitos. Pouquíssimas pessoas conseguem atender as estranhas, impensáveis e limitadoras exigências de Edward Monkford - o arquiteto dessa engenhosa criação. Nada de livros. Nenhum novo móvel. Nada de novos quadros. Nada de carpetes. Tudo deve permanecer como ele designou em mais de 1000 cláusulas do contrato.
São cláusulas que garantem uma vida perfeita: segurança, mudanças e uma nova vida. É justamente o que Jane precisa. Após uma série de problemas, traumas e perdas, uma de nossas protagonistas decide mudar de vida e esquecer o que tanto a fez sofrer no passado recente. Depois de responder questionários nada convencionais na busca de uma nova casa,
1) "Faça uma lista de todos os bens que você considera essenciais para sua vida".
Jane é aceita, é entrevistada pessoalmente Monkford e, depois disso, passa a ser a nova moradora da casa. Os dias parecem ser mágicos: há um circuito elétrico que gera iluminação certa para o ambiente, que avisa na hora de acordar, que mede níveis de humor e dietas que seriam essenciais para os hóspede. Parecia uma nova vida até a chegada do passado dessa casa.
5) "Imagine que você precisa escolher entre doar uma pequena quantia para o museu local que está angariando fundos para uma importante obra de arte ou doar para uma instituiçõa de combate a fome na África, o que você faria? a) Museu b) Fome".
Emma e Simon eram os antigos moradores. Juntos, tentavam, também, um recomeço após um traumático episódio que buscavam superar nesse novo ambiente. Entretanto, novos conflitos surgiram e Emma foi encontrada morta na escada da Folgate Street Nº 1, na mais bela invenção de Monkford, na casa que era sinônimo de perfeição. Caso encerrado pela policia com um laudo inconclusivo e sem muitas explicações, a história foi se apagando da memória e acabou arquivada nas milhares de pastas da segurança governamental. Até o dia que Jane recebe flores endereçadas a falecida Emma Matthews e busca explicações do passado desse lugar que, hoje, ela chama de lar - pois, tudo que o hoje é seu, um dia já foi dela. A tranquilidade se torna ameaçadora e cheia de mistérios.
6) Uma pessoa próxima a você confessa que atropelou alguém quando estava bêbada. Por causa disso, parou de vez de beber. Você se sentiria na obrigação de denunciar à polícia? a) Sim. b) Não.
A história de JP Delaney é, no mínimo, insana. É um daqueles thrillers que mexem com você, que te fará suspeitar de todos os personagens (mesmo você errando sempre), que te deixará em muitas noites em claro de leitura. Com um capítulo narrado na visão de Emma e outro na visão de Jane, somos levados a conhecer intimamente os problemas, os dilemas e a vida das duas protagonistas - o que fornece um panorama completo da história ao mesmo tempo: no passado e no presente.
Essa foi uma das geniais sacadas do autor: colocar as incertezas do passado no futuro de Jane. Além disso, ele soube separar muito bem a narração das duas vozes, tornando o livro fluído (com capítulos curtos, concisos mas cheios de significação), inteligente e frenético. Os personagens se tornam outro ponto forte do livro, são humanos, verdadeiros e todas as suas facetas são mostradas ao leitor, o que fornece a intimidade de conhecer cada um muito bem - além de desenvolver o lado psicológico, que rege boa parte da trama e promete fazer você pensar em até que ponto podemos conhecer o outro.
Essa foi uma das geniais sacadas do autor: colocar as incertezas do passado no futuro de Jane. Além disso, ele soube separar muito bem a narração das duas vozes, tornando o livro fluído (com capítulos curtos, concisos mas cheios de significação), inteligente e frenético. Os personagens se tornam outro ponto forte do livro, são humanos, verdadeiros e todas as suas facetas são mostradas ao leitor, o que fornece a intimidade de conhecer cada um muito bem - além de desenvolver o lado psicológico, que rege boa parte da trama e promete fazer você pensar em até que ponto podemos conhecer o outro.
A Folgate Street Nº 1 é uma casa espetacular. Cada detalhe técnico, funcionalidade ou inovação são apresentadas pelos personagens durante todo a obra. É admirável observar o intuito de Monkford com a construção da casa e o modo como ele pensa na Arquitetura como mudança de vida - o que ocasiona, no leitor, diversos pensamentos sobre até que ponto uma estrutura física modifica as pessoas e pode construir um mundo melhor.
Terminei "Quem era Ela" extasiado. Um misto de "meu-deus-que-final-foi-esse" com "como-pode-ser-essa-pessoa". É uma daquelas conclusões que nem nas mais brilhantes teorias conseguiríamos acertar. Muito bem arquitetado, escrito e pensado, é um dos melhores livros que já li esse ano e que promete mexer muito com seu psicológico.
Terminei "Quem era Ela" extasiado. Um misto de "meu-deus-que-final-foi-esse" com "como-pode-ser-essa-pessoa". É uma daquelas conclusões que nem nas mais brilhantes teorias conseguiríamos acertar. Muito bem arquitetado, escrito e pensado, é um dos melhores livros que já li esse ano e que promete mexer muito com seu psicológico.
Título: Quem Era Ela.Título Original: The Girl Before.Autor: JP Delaney (pseudônimo).Editora: Intrínseca (2017).Avaliação: 5/5.
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